Na sequencia digo o motivo que me leva a contar este texto com o tema do dia. É um texto de minha autoria, feito após uma jornada de ayahuasca e que ainda hoje, 5 anos depois de escrito é atual.
RETOMADA
“ Linearmente séculos separam esses eventos, no entanto magica e ancestralmente um oceano une duas nações.
No jovem país a oeste um Rei maculado e sem honra governa, ladeado por homens de conselho e astucia que são seus pares ou pior em vilania e descaso….
…Enquanto isso na velha ilha, a vista é de completa desolação, a terra revolvida , casas em chamas, dos bosques cortados as árvores sangram como os corpos dos guerreiros caídos sob suas raízes. Os corvos se banqueteiam. – O tributo da Deusa – Reflete o Bardo, enquanto sobe ao cume; A visão da colina dos Reis em nada lhe agrada, o Rei – Ard Ri de Erin está mortalmente ferido.
Irônico como esta terra, paraíso de nossos ancestrais, onde há abundancia de víveres, onde tudo que se planta dá, exista tão miserável situação, onde o povo lubridiado por estratagemas tem a ilusão de ausência de fome, veem através de truques a fartura ..que abastece apenas a mesa de poucos. Ainda agora se tenta impor novas leis, que proporcionarão mais abundancia a alguns, e violentará gradativamente sua mãe, a terra. Conselheiros sem conselho, dizem-se sábios mas sem sabedoria. Além de oprimir o povo tentam reduzir o luzidio, embora já escasso verde de nossa terra…E não são poucos os que bradam por justiça…embora não há nenhum levante…não existe mais heróis. Aquele Rei que aqui governa, conhecedor da força das letras, mas não intimo delas, tornou o conhecimento constantemente negado ou diminuído ,embora seja ocultado por alguns poucos bravos que o protegem , guardam e trasmitem o saber a alguns libertos da ilusão.
O Bardo se posiciona de fronte a pedra do Destino, ansioso pois sabe que o preço da Magia é o preço de si mesmo, sorri logo estará com seus ancestrais celebrando em Hy Brasil, se põem a cantar,enaltecendo os heróis tombados, a batalha momentaneamente perdida e a glória da outrora chamada era de ouro dos Dannan. A música começa num ritmo longo e pungente se fosse outro, ele duvidaria de sua visão, mas ele entre outro nomes é Talisien, é Amergin, é Merlin, é Catchbad; Ele é cada Bardo, cada Vidente e cada Druida de Erin, pois hoje ele invoca todos os que foram, os que são e os que serão, e o que vê é real: Uma dama Branca se eleva a partir da nevoa, do sangue, da glória ,das lagrimas e dos mares, e ela dança. Conforme sua música aumenta, as árvores estremecem, a terra ferida se fecha, a natureza se renova, assim como aqueles que estavam feridos, os desesperançados e os morimbundos. O Bardo entoa um lamento tão profundo e sentido que as Banshes vem lhe acompanhar e tão perturbadora é a melodia que desperta a outros do entorpecimento da batalha, que logo se juntam e engrossam o coro da música, promovendo as mudanças e a restauração, apenas o rei não reaparece….
Algo peculiar ocorre nas jovens terras a oeste…os guardiões do saber, acordam sobresaltados , por sonhos luminosos onde pássaros curam, arvores dançam e o vento canta. Encontram no caminho jovens, famintos de comida e justiça, mas com novo brilho em seus olhos, – Finalmente – Pensa um dos sábios – Chegou o momento, afinal. E mesmo os mais desinteressados e apáticos, daquele povo sofrido e desesperançado, não ficam impassíveis perante o pranto da mãe. E a destruição de seu lar. Imbuídos de novo animo e coragem seguem a planagem alta , onde fica o rei e seus vis conselheiros…
O canto daqueles que sobreviveram a batalha faz verter água da pedra do rei, o pranto soberano cobre a planíce, lavando ,levando toda desolação em direção ao mar. O Bardo sem cessar a canção, muda o tom, acelera o ritmo, junta-se um tambor, a colina estremece. No lugar em que se vê a pedra da aclamação, pousa um gigantesco corvo, que se transforma na Deusa deste dia cruento e com sua arte faz a terra abrir-se e de dentro dela, retira intacto o corpo, outrora ultrajado do Rei; nesse ato, é tal a força empregada pela Deusa, que agita as águas que circundam a ilha, formando ondas cada vez mais altas, tirando os barcos de suas rotas, fazendo com que os mundos se agitassem e neste tempo e além dele soubessem….
Na terra do Oeste – Os guardiões são interpelados por centenas de pessoas que os procuram, buscando compreender um fenômeno sem precedentes…uma onda gigantesca abatera-se sobre a planíce, levando, os conselheiros, o castelo e o rei embora, engolidos pelo mar.
E assim eles souberam:
Que naquele renascer , tanto nas terras ancestrais, como na jovem terra do Oeste, ultrapassando o tempo e as probabilidades, era retomada a soberania.”
A minha explicação para este texto, neste dia:
Entre os Celtas é sabido que a Soberania é a Terra. E a terra, é a natureza, e fazemos parte delas, assim como estas fazem parte de nós, não importa se a selva Amazônia, ou os campos de Clontarf , ou as Megalópoles em que vivemos.
Nós sofremos e estamos cada vez mais desconectados de nós e da natureza, pois nos acostumamos a não encarar a natureza que vivemos e nos rodeia como natural.
Esta desassociação, nos distancia do natural, da integração com o planeta e gera toda sorte de problemas ambientais que temos hoje, pois não se vê mais a terra como sagrada; Se desde sempre tivéssemos mantido a crença de Homem INSERIDO e PARTE da terra, e não o de DOMINADOR, não estaríamos tão carentes do natural hoje.
Ponho no conto, como ponto primordial da mitopoese a conduta moral dos “Reis e Rainhas” pois assim o era entre os Celtas, só a integridade pode manter a soberania ao nosso lado, e ela se dá quando assumimos nosso papel como seres dentro deste planeta, como seres com responsabilidades pelo que fazemos, e assim nos tornamos íntegros, conosco e com o planeta.
A soberania e a responsabilidade com ela se aplica a todos nós, tanto individualmente como abarcando, nossos bairro, nosso País, as nações, aos Continentes, pois é a amoralidade em relação a Terra e a Natureza que nos transformou e nos pôs onde estamos hoje: Famintos como os jovens do poema. Famintos de nós, famintos de amor, famintos da terra, famintos para fazer algo pelo planeta, pois tardiamente acordamos, ou achávamos que não era tão ruim assim, mas acordamos, e muitos outros estão recém despertos e há ainda como reverter a situação.
A Deusa e a torrente de maré que se ergue para reestabelecer Eire e seu Rei mitico, bem como levar o Rei e seus conselheiros desta era somos NÓS. Devemos agir para que os Deuses possam agir através de nós, precisamos de Bardos,Videntes, Druidas e Guerreiros que se importem mais com a integridade e a integração, do que com ego e razão.
Precisamos de quem SINTA.
Visualize o rio, lago, cachoeira que mais gosta! Lindo não? Não apenas os admire, salve-os! Pense neles, ao lavar o carro, a louça, tomar banho e deixar agua correr sem necessidade.Não basta assinar petições ,e abaixo assinados, manter a terra é aos poucos, e começa conosco é justamente tentar a se reintegrar ,é deixar as ações tão dentro de nós que com o tempo, não precisaremos nos preocupar com o meio ambiente, pois cuidar dele e de nós será a mesma coisa. É honrar tua casa, tua rua com a mesma reverencia que falamos da preservação da amazônia.
É usar constantemente a premissa do Druidismo moderno, a salvação do planeta começa em casa:
Cura a si.Cura a comunidade.Cura o Planeta.